Este blog é para aqueles que, como eu, sempre que viajam de ônibus, carro, avião, jegue ou seja lá o que for, sempre aproveitam esse tempo para pensar, refletir sobre a vida ou mesmo distrair-se para o tempo passar mais rápido!! Boa viagem!!

terça-feira, 31 de maio de 2011

Todo gesto de amor.




"Maio já está no final, e o que somos nós afinal..."

Hahahaha. Veio tão espontaneamente a piadinha com a música que eu não poderia deixar de fazê-la.
Aliás, acho que tudo o que vem na gente naturalmente deveria ser executado naturalmente.
Maio está acabando mesmo. O mês das noivas e entraremos no mês dos namorados.
Como eu não tenho namorado (mais), preciso encontrar uma boa forma pra viver esse mês que, embora não tendo namorado, vai existir pra mim também.
Eu não tenho namorado, mas tenho amor.
Não, não, não.
Não vou falar sobre o amor ou o que ele é. Não tenho conhecimento suficiente pra isso. Quanto mais o tempo passa mais percebo o quão há de se aprender sobre esse assunto.
Mas uma coisa ha que eu possa falar do amor: seus gestos, suas materializações.
Embora muita gente não saiba definir ou explicar o que é o amor, todo mundo reconhece quando um gesto do mesmo é dirigido-lhe.
Independente de qual seja sua religião ou se você não acredita em Deus/Deuses/Profetas/Budas, há uma regra moral que devemos ser bons uns com os outros, inclusive a si mesmo.
E o que é a bondade senão amor?
Não estou me referindo aquele amor carnal de duas pessoas (independente de opção sexual), tô falando do amor mais bonito, mais puro e mais elevado.
Segundo a minha orientação religiosa há somente dois preceitos que o ser humano precisa viver, o da caridade e o do amor, e os dois estão interligados intimamente.
Você reconhece um gesto de amor, de longe, ninguém precisa explicar.
Todos os dias eu vejo isso ao meu redor.
Vou citar alguns:
- Toda terça e quinta feira eu jogo volei à noite. A dona Maria, mulher que limpa nossa casa, coloca as joelheiras em cima da minha cama para que eu não esqueça do volei. Ela também já deixa minha cama com as cobertas prontas quando é frio.
- Mesmo que esteja apressado, quando meu pai passa por uma cidade do Paraná ele sempre para pra comprar um queijo que eu adoro. Ele também sempre faz linguicinha no churrasco porque sabe que é a minha opção preferida. Ele faz várias pequenas outras coisas que me encantam todo dia.
_ Minha mãe sempre procura fazer tabule (que eu a-do-ro) e já coloca a colher virada pro meu lado. Ela sempre aparece com umas idéias como quem não quer nada e que salvam o meu dia.
- Depois de um evento meio traumático nesse final de semana, a primeira coisa que meu irmão fez quando o perigo maior passou, foi se enfiar lá fora, no meio da confusão pra saber se eu estava lá. Ele também já deixa água quente no fogão quando é frio porque eu chego em casa e faço sopa.
- Amigos de uma infância toda que mesmo não podendo mesmo, acabam fazendo milagre a aparecendo pra sua formatura, quando já se tinha constatado que não seria possível.
- Você sabe que é amado por alguém quando ela ganha uma coisa, e mesmo que tenha que esperar muito tempo, ela guarda para entregar pra você.
- Quando a pessoa que vai dormir com você sai de baixo das cobertar quentinhas e vai pro frio do inverno só pra arrumar as cobertas do seu pé pra que você não se esfrie.
- O seu chefe que tem paciência pra explicar onde você errou e que te libera 4 dias pra fazer uma prova que, se passar, você o deixará na mão bem na época que ele mais precisa.
- Uma amiga que pressente que você está de bode, te liga e diz: "vamos tomar todas e falar mal de todo mundo que a gente quiser".

Enfim, poderia falar de tanta coisa, mas são tantos gestos lindos que acontecem todo dia que a gente acaba burocratizando-os, nos acostumando com eles e perdemos sensibilidade de nos alegrar com cada pequeno gesto de despreendimento.

Que Deus não permita que eu fique cega frente às belezas da vida.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

E agora Jesus?


Deus, tô tão cansada disso tudo!
Tô tão cansada de gastar tanta energia pra tentar entender coisas que eu não entendo e acho que vou morrer sem entender.
Tô tão cansada de nadar, nadar contra a correnteza e não conseguir ir pra frente.
Me diga Deus, você que sabe tudo: que diacho eu tenho que fazer pra sair desse caos em que me encontro?
Você sabe, me conhece bem, eu não fico esperando a vida acontecer. Eu arregaço as mangas e dou a cara pra bater.
Mas pra quê?
Pra que tem servido tanta energia?
Pra eu me sentir esgotada. Só pra isso.
Eu queria parar de pensar sobre as coisas.
Invejo tanto algumas amigas que ligam o foda-se e vivem a vida.
Cadê o meu botãozinho? Sumiu.
Sumiu sim. Ele existia aqui. Quantas vezes eu o usei. E aonde ele foi parar?
Tenho um ódio mortal de mim as vezes. Ultimamente, quase sempre.
Eu percebo as coisas mas me entrego pra elas como se não soubesse o que ia acontecer.
Eu sabia que esse namoro ia terminar. Uma pessoa que recebe depoimento do próprio namorado com uma música em que troca a frase: "minha namorada" por "minha mãe)- o trecho da música: "não é que eu não queira ser só de você, ser sua paixão. É que minha namorada não vai gostar quase nada dessa decisão"- não pode ter chance de dar certo.
Eu percebo quando a maioria das pessoas chega pra me sugar, porque sabem que eu vou ouvir, ficar junto e entender a situação. Eu sei que vai me cansar, que eu vou me sentir usada, mas quando vejo já tô na situação, muitas vezes mais envolvida e usando mais energia que a própria pessoa dona do problema.
No fim, quando as coisas estão resolvidas ou quando ele se sentiu mais aliviada, ela vai embora feliz e fico eu, em cacos, para trás.
Então me diga senhor. de que adianta essa inteligência se no final eu só faço burrada?
Ou será que vai ser assim pra sempre, eu me doando inteira pro mundo e recebendo quase nada em troca?
Por que eu não consigo viver com um pé atrás? Ou é sempre os dois, com medo de viver a vida; ou é sem nenhum, quando muito facilmente perco o equilibrio e dou de cara no chão.
Eu odeio tanto essa minha profissão. As pessoas sugam tanto de mim e isso que eu nem estou ganhando pra isso. Se pelo menos fosse trabalhandinho.
Eu sei que eu não entrei na psicologia e me tornei assim. Sei que eu sempre fui assim e que, justamente por isso, a psicologia surgiu normalmente na minha vida.
Mas eu tô cansada!
Eu queria que pelo menos um pouco, só pra variar, alguém dissesse: senta aí e fica quietinha Giana que eu vou resolver as coisas pra você.
As pessoas dizem que eu sou forte, que eu dou a volta por cima. É claro, assim elas se sentem menos responsáveis e me deixam nadar sozinha.
Eu nunca acordei e disse: hoje eu vou ser forte só porque eu quero ser assim.
Foi necessidade.
Mentira, foi escolha.
Eu podia ter sido e, ainda ser, uma bananona que fica vendo a vida passar. Ficar me escondendo atrás dos outros e esperando que a vida aconteça.
Escolhi o contrário. Escolhi olhar pra vida e dizer: "pode vim que eu aguento. Aqui, pode mirar aqui no peito que eu dou conta".
Por amor eu fiz essas escolhas, por amor a minha mãe e meu irmão, por amor ao meu pai que ficava longe, por amor às minhas amigas, por amor a um garoto.
Eu sei que eu escolhi.
Se eu pudesse escolher provavelmente faria essas escolhas novamente.
Sou assim.
Eu não me arrependo das escolhas, me arrependo das consequências.
Pensei sempre mais nos outros que em mim, e eles, pensaram neles, é claro.
Resultado: essa minha situação angustiante.
Eu entendo muito bem as pessoas que enlouquecem.
Quando fui pro estágio em Porto Alegre numa clínica psiquiátrica e na minha experiência breve de professora numa APAE, percebi como a tristeza é tão angustiante, tão desesperadora, tão insuportável, que a loucura é um caminho muito provável.
Muito mais fácil enfrentar as coisas que sentimos num mundo de fantasia. Criar um mundo novo é a melhor fuga que existe.
Quem nunca imaginou uma coisa diferente quando estava amuado?
Então Deus, que é que eu faço?
Eu não sei ficar esperando as coisas acontecerem. Isso me enlouquece muito mais do que ter que entrar no campo de batalha. Eu também não sei o que fazer pra me tirar desse caos.
Me ajuda!
Me leva pra um lugar novo, pra uma pessoa nova, pra mim mesmo renovada.
Eu te suplico senhor!
Só me ajude juntar essa energia toda que se dispersou...

terça-feira, 12 de abril de 2011

Quando não se sabe o que dizer....

Quando eu comecei esse blog eu estava solteira.
Aliás.
Tinha o sido por todo o tempo anterior de minha breve existência.
Sempre tive um impeto de querer provar pra alguém que eu podia fazer as coisas.
Até hoje não sei a quem eu queria provar, mas sei que, de vez em quando, ainda me dá uns loucuras dessas.
Bem novinha, via minhas amigas se apaixonarem e se machucarem.
Pensava comigo: eu é que não vou me entregar pra esse bandido.
Mas teve o primeiro beijo, e é claro, eu tinha uma certa queda de 3.000 quilometros por aquele garoto. Pena que ele era muito ligeirinho e nem sequer desconfiou que aquele era o meu primeiro beijo. Me assustou. Tanto que passei anos adquirindo comportamentos frios e antihumanos pra tentar elaborar aquela investida voraz.
Depois disso, nunca dei chance ao acaso de me apaixonar.
Já ficava com alguém pensando em como eu ia fazer pra romper o laço.
Desenvolvi uma armadura.
Ninguém invadia mais meus pensamentos, meu coração.
Eu tinha amores de uma noite, de uma festa.
Esse era o tempo máximo de duração.
Depois disso mofava.

Mas como toda humana, um dia, por mais que eu corresse, eu ia me deparar com esse sentimento. E ele aconteceu.
Num acaso da internet, do orkut, eu encontrei alguém diferente.
Conversamos por meses até que ele veio pra um encontro de estudante (me ver, na verdade).
Sim, eramos do mesmo curso, mas de cidades diferentes.
E ficamos, e nos envolvemos. Foi tão natural. Eu não me preocupei em cortar laços
porque o término do encontro seria responsável por isso.
Passamos dois dias como se já fossemos um casal. O entrosamento, as histórias.
E fomos mesmo porque mesmo ele indo embora o laço não foi cortado.
E decidimos assumir uma história.
E foi linda.
Ah como essa história me tras coisas boas.
As vezes eu ainda choro, de saudade, de alegria, de nostalgia.
Foi uma coisa muito boa, e acabou.
Por dias eu procurei encontrar a razão. Muitas vezes me arrependi, queria voltar atras. Por outras não queria nem o cheiro de volta.
Uma vez eu li que o amor é uma droga. E eu acho que é mesmo.
Quando ele se vai, por mais que não queiramos mais a outra pessoa, há as crises de abstinência, o corpo sente.
Era alguma coisa que fazia parte de mim por muito tempo e que, de repente, não era mais.
Continuamos conversando e esse é o meu maior desafio. Nos gostamos, mesmo.
Só que não é mais paixão.
Tento aprimorar com ele minhas qualidades humanas.
Ter que ouví-lo dizer que está muito bem, muito animado com a nova namorada não é exatamente um carinho pro ego.
Ouvir suas queixas e não poder ir lá oferecer o ombro talvez seja pior que a primeira.
Não sei ligar o foda-se e mandar as coisas (ele) pro espaço.
Não sou assim.

Da mesma forma que um novo amor parece vir surgindo.
Ouvindo minha razão, eu deveria me conter, ir devagar.
Não me entregar tanto quanto na outra relação.
Mas eu não sou assim.
Não sei fazer as coisas por um pouco.
Ou é tudo ou é nada.
Me jogo. Adoro essa sensação de se jogar de olhos fechados no abismo.
Me jogo mesmo.
Me entrego.
Rezo antes, durante e depois e essa é minha única proteção.
Não vou deixar um amor que não deu certo. Quer dizer, dar deu, só não durou.
Então, não vou deixar um amor que não durou me fechar justo agora que eu tirei a armadura, justo agora que me libertei, me encontrei.
O amor antigo me ajudou nisso. Descobrir essa parte frágil e gostar dela.
Gostei tanto disso que vou continuar.

Se eu chorar, deixa.
Depois de uns dias eu seco a lágrima e continuo caminhando com a cabeça mais altiva que antes, porque sei que posso caminhar.

quarta-feira, 9 de março de 2011

De volta pro busão.

Durante todo o tempo que estive ausente viajei de carro, de barco, de moto e, claro, de busão também.
Entretanto fui muito egoísta. Deixei de repartir com vocês as paisagens das minhas janelas.
Volto aqui hoje, cheia de coisas pra dividir,entretanto decidi pouco escrever, para mais pensar, para mais entender, para mais me erguer.

Como não estou mais habituada a colocar meus sentimentos puros e nus, aqui, sobre estas páginas eletrônicas utilizo o texto de uma brilhante escritora e blogueira que descobri neste tempo de viagem solitária.
O nome dela é Tati Bernardes.

Vamos lá! :


Boa demais pra você
Tati Bernardi


Fala, eu aguento. Vocês foram embora apenas porque acabou o tesão, porque a assistente nova que apareceu prometia um sexo mais selvagem. Ou porque, uma vez tendo conseguido tudo de mim, vocês, caçadores, precisavam de uma nova presa. Ou porque é assim mesmo. As coisas começam e acabam. Tudo bem que ando meio sem “meio” nessa infinidade de começos e fins. Tudo é muito rápido. E daí vêm minhas amigas e analistas e livros e filmes e peças de teatro e tias e mães de amigas: eles têm medo de você. Porque você ganha bem, porque você tem opinião, porque você namorou muitos caras, porque você é crítica, porque você é inteligente. Ah vá. E Papai Noel e Coelhinho da Páscoa também foram embora porque nós, mulheres modernas, assustamos eles. E que mulher em pleno 2011 não é moderna? Que papo mais besta e mentiroso. Espia aí da sua janela. Por acaso você vê alguma virgem andando de anágua na rua, acompanhada de um homem para não ficar mal-falada? Por favor, me ajude a parar a disseminação desenfreada dessa falácia. Fale pra sua mulher “tô indo embora porque você tem bafo”. Ou ainda “tô indo embora porque odeio o som que você faz pra limpar a garganta de manhã”. Pode ser bem sincero mesmo, “tô indo embora porque preciso comer alguém mais magra”. Pode doer na hora, mas é melhor do que essa multidão de mulheres tagarelando pelas ruas com seus saltos e diplomas e agendas e pressas: coitado, sou muito boa pra ele, ele ficou com medo de mim!

Você que nasceu homem, você que nasceu esse ser completamente diferente e estranho pra mim, mas que, ainda assim, é algo sem o qual minha vida fica triste e chata, faça um favor: me escreva e seja muito honesto. Prometo jamais divulgar seu nome. Leio e deleto tudo. Mas, se você tem piedade do sexo oposto, por favor, só por esta vez, me diga honestamente: existe MESMO esse lance de ter medo de mulher bacanuda? Porque esse papo, que tanto ouvimos em psicanalistas, programas de auditório, cartomantes e revistas modernas da mulher suicida… Não, não pode ser. Eu não posso crer que uma burra assuste menos. Eu duvido que uma feinha seja melhor porque causa menos dor de
cabeça. Que uma sonsa muda e sem opinião seja o símbolo da paz que vocês tanto buscam. Pra mim é inaceitável que uma mulher vivida possa colocar a segurança de vocês em risco.

Me digam que é mentira, por favor. Não é possível que sonhamos a vida inteira com seres tão fracos para construirmos nossas vidas. E que, enquanto lemos e aprendemos e malhamos e ganhamos dinheiro e curtimos a vida para nos tornar mulheres mais interessantes e vividas e gostosas, só estamos nos distanciando mais de vocês. E que a prima lobotomizada do interior de Caxote Mirim do Cupuaçu mexe com vocês de um jeito inexplicável. Ela é doce e meiga. Ela nunca levanta a voz ou discorda. Ela não te cobra e sempre te recebe com um sorriso nos lábios. Ela te esperou a vida inteira. Ela não faz mal a uma mosca. Doce Maria das Graças, mulher que aturou seu avô, morreu sem nunca dar um murro na mesa do restaurante e nunca mais vai reencarnar, para o deleite dos seus oprimidos sonhos arcaicos.

Tati Bernardi é escritora e roteirista. Escreva para ela: tatibe@uol.com.br